A evasão escolar é atualmente um dos principais problemas da educação no Brasil. Ela ocorre quando o aluno não se matricula no ano seguinte. Portanto, quando um aluno falta em muitas aulas durante o ano letivo, ele ainda não se enquadra no conceito de evasão escolar. Somente quando esse aluno deixa de se matricular no ano seguinte, ou seja, quando desiste totalmente dos estudos, é que ele entra para as estatísticas da evasão escolar.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda é um dos principais fatores para determinar a quantidade de alunos jovens de 15 a 17 anos que abandonam ou têm algum atraso escolar. Um levantamento feito pelo o IBGE indicou que “na evasão escolar, 11,8% dos jovens mais pobres tinham abandonado a escola sem concluir o ensino médio em 2018”.
O levantamento intitulado Síntese de Indicadores Sociais 2019, feito pelo IBGE, apontou que na zona rural do país a evasão escolar entre adolescentes superou os 11%. Nas regiões Norte e Nordeste ultrapassou os 9%. Esse problema também afeta, nas áreas urbanas, mais homens, que tem evasão superior (8%) à das mulheres (7%). A evasão escolar também é maior entre estudantes pretos e pardos (8,4%) do que entre brancos (6,1%).
A pesquisa feita pelo IBGE apontou outro grave problema: jovens entre 15 e 17 anos que estão fora da etapa adequada, ou seja, estão na escola mas não cursam o ensino médio. O número de jovens dentro desse quadro chega a quase 25%.
Nos anos 1980, cerca de 40% de população brasileira com idade entre 7 e 14 anos estava fora da escola. Nos anos 1990, o Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental. Nas décadas seguintes, o país não foi capaz de avançar na qualidade do ensino e na manutenção da totalidade dos jovens nas escolas. Em 2017, o país atingiu a seguinte marca: 99,2% de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos estavam nas escolas, segundo dados do último Censo Escolar, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
No entanto, problemas como violência no entorno da escola; analfabetismo funcional, o qual ocorre quando um estudante sabe escrever, mas não consegue compreender mesmo textos simples; troca constante de professores; situação socioeconômica precária dos estudantes; falta constante de professores; gravidez na adolescência; a migração de famílias para outros estados; negligencia dos pais; desestruturação familiar; baixa qualidade do ensino; e a necessidade de trabalhar cedo para ajudar em casa são alguns dos motivos que levam à evasão escolar.
Atualmente, há no Brasil os jovens nem-nem, aqueles que não trabalham nem estudam. Fazem parte desse grupo jovens entre 15 e 24 anos. No total, eles seriam cerca de 11 milhões de brasileiros que não têm acesso a uma saída para suas dificuldades econômicas.
Um levantamento feito pelo Insper mostrou que quando os alunos não completam o ensino básico, isso “representa uma perda para o Brasil de cerca de R$ 124 bilhões”. Assim, o custo da evasão escolar e da não conclusão do ciclo básico recai sobre o jovem e também sobre o conjunto da sociedade, pois, de acordo com o professor do Insper Ricardo Paes de Barros, para cada jovem que não conclui o ensino médio, o custo para o Brasil é de R$ 95 mil ao ano.
Segundo uma análise da pesquisa de Paes de Barros feita pela Fundacred, “desse total, R$ 49 mil correspondem à perda de salário e de produtividade; R$ 18 mil a despesas relacionadas ao crime e à violência (Justiça, sistema prisional e polícia); e R$ 28 mil a questões de saúde (gastos médicos e hospitalares, além da perda resultante de faltas no trabalho por problemas de saúde)”. Desta forma, como em 2017, ano em que foi feito o levantamento pelo professor do Insper, o contingente de jovens de 15 a 17 anos fora da escola era de 1,5 milhão, a perda total para do Brasil com essa evasão escolar representaria mais de R$ 140 bilhões.
Ainda segundo a pesquisa do Insper, “pessoas mais escolarizadas se dão melhor no mercado de trabalho, envolvem-se menos com crime, têm saúde mais robusta, desenvolvem famílias mais estáveis e planejadas e engajam-se mais nos assuntos públicos”.
Já segundo o relatório Competências e Empregos – Uma Agenda para Juventude, feito pelo Banco Mundial, esse contingente enorme de jovens provavelmente por estar fora do mercado formal durante muito tempo acabará diminuindo a produtividade da mão de obra do país. Em um cenário no qual os jovens que não concluíram o ensino médio são em sua maioria negros, com baixa renda familiar e que acabam precocemente direcionados para um mercado de trabalho quase sempre informal e precário, a necessidade de se combater a evasão escolar se torna ainda mais imediata. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, feita em 2017, mostram que um trabalhador com ensino médio completo recebia em média por mês R$ 1.727 contra os R$ 1.409 pagos para um empregado que concluiu só o fundamental, o que equivale a uma diferença salarial de 18%.
Para o Banco Mundial, esses jovens enfrentam a forma mais extrema de desengajamento em uma perspectiva de competências e emprego, pois ocupam funções de pouca relevância em termos de competências exigidas pelo mercado. Segundo Wagner Santos, coordenador do núcleo de juventude do Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, “muitas vezes, o primeiro trabalho é determinante para o sucesso da trajetória profissional (…) aqueles que ingressam no mercado informal têm menores perspectivas de prosseguir os estudos e/ou de desenvolver competências e habilidades requeridas pelo mundo do trabalho. Com isso, dificilmente conseguirão, ao longo de sua vida, ocupar postos de trabalho mais qualificados e com melhores salários”.
Atualmente, segundo levantamento feito pelo Inep, a partir dos últimos anos do ensino fundamental, cresce muito o número de crianças e adolescentes fora da escola. De acordo com as últimas pesquisas, esse número supera mais de um milhão. Também houve, conforme o Censo Escolar de 2018, uma queda de 7,1% nas matrículas no ensino médio.
A evasão escolar, no ensino médio, é uma questão mundial. Em muitos países há um cenário parecido com o do Brasil. São mães adolescentes que precisam abandonar a escola para cuidar do filho, falta de transporte público, defasagem de aprendizado, necessidade de trabalhar para aumentar a renda familiar e pouca vinculação com a escola, principalmente a escola pública.
De acordo com o Instituto Ayrton Senna, o Insper, o Instituto Unibanco e a Fundação Brava, a chance de um jovem de família rural chefiada por uma mulher negra analfabeta chegar aos 16 com o ensino fundamental completo é muito pequena. No Acre, só 20% dos jovens que se encaixam nesse perfil terminam o ensino fundamental. No Mato Grosso são 40% e em São Paulo 60%.
Por outro lado, nesses mesmos estados, nas famílias da zona urbana chefiadas por um homem branco com ensino médio a chance do jovem completar o ensino fundamental é de 90%. Portanto, a questão socioeconômica é fundamental para evasão escolar. Combater a desigualdade social com programas que ajudam a manter as crianças nas escolas é fundamental para a educação evoluir no Brasil.
A falta de interesse e motivação também é uma das principais razões para alunos abandonarem a escola. Isso é resultado direto de a escola não ser acolhedora e não procurar engajar os estudantes. Somente instituições de ensino capazes de criar um espaço de diálogo com os alunos poderão combater esse problema. Portanto, a evasão escolar só vai reduzir no Brasil quando a escola se tornar um ambiente para o protagonismo juvenil. Para tal, as escolas precisam ser locais menos engessados, onde as experiências sejam algo que o aluno se lembre positivamente e um espaço no qual ele se sinta respeitado e conectado. Também é fundamental que as escolas e os governos apostem na valorização dos professores.
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