Reclamações por falta de atenção ou dificuldade em memorizar certas informações tem se tornado algo comum. Esta é uma queixa recorrente em cerca de 40% da população adulta. As causas podem ser muitas e são influenciadas por diversos fatores, como idade, genética, estilo de vida, etc.
Nos mais jovens, a queixa de problemas com a memória tende a ser mais subjetiva e dificilmente estará associada a doenças cerebrais específicas.
Nos mais velhos, principalmente depois dos 60 anos, é esperado que haja uma certa perda da memória. Nestes casos, as possibilidades de um acidente vascular cerebral (AVC) e de uma doença degenerativa, como o Alzheimer, já são mais presentes. De forma que, quando a dificuldade de reter informações começar a se tornar algo mais frequente e intenso nas atividades do dia a dia, é importante procurar um médico neurologista.
Capacidade de armazenamento de informações do cérebro
A memória pode ser classificada três grupos importantes chamados: memória de longa duração, memória de curta duração e memória operacional. Esses grupos se subdividem em outros, com mais classificações, porém importa saber que o cérebro humano não tem capacidade de reter todas as informações que passam por ele durante o dia, por isso exclui entre 60% e 70% das informações com que teve contato, guardando apenas aquilo que se revela mais significativo e importante para o futuro. Assim, nossa tendência é sempre esquecer o que é recente, e lembrar daquilo que destoou do ambiente, que nos interessa ou que nos causa algum tipo de emoção intensa, boa ou ruim.
A capacidade de memorização varia de pessoa para pessoa e, por isso, há quem tenha uma excelente capacidade de guardar fisionomias, mas não fixe muito bem datas e eventos, por exemplo. Embora não exista uma relação direta entre inteligência e memória, sem dúvida uma memória eficiente é um grande potencializador da inteligência, pois interfere na capacidade de concentração, retenção e evocação de dados.
A boa notícia é que o cérebro é plástico, ou seja, ele possibilita a criação de circuitos e conexões neurais novas dependendo dos estímulos que recebe, por isso sempre é possível estimulá-lo. Organizar atividades, treinar o cérebro e adquirir hábitos saudáveis podem auxiliar para um bom desempenho. Assim, é possível chegar na combinação perfeita, que é a de um cérebro descansado, atento e concentrado, com um estímulo claro e marcante.
Muita informação, pouca memória
A quantidade de informações e ferramentas a que somos expostos constantemente pode ser um fator prejudicial à nossa memória. Por exemplo, a facilidade de fazer uma conta qualquer por meio da calculadora faz com que não desenvolvamos a capacidade de fazer contas mais simples “de cabeça”.
Mas os estímulos vão além disso: a internet reproduz informações num ritmo muito mais rápido do que qualquer pessoa poderia acompanhar; as redes sociais ocupam boa parte de nossas vidas; as jornadas de trabalho são longas e intensas; envolvemo-nos cada vez em mais atividades ao mesmo tempo; assumimos cada vez mais responsabilidades, e tudo isso pode nos conduzir a estados de sobrecarga do cérebro, o que só pode prejudicar a nossa memória.
Por isso, um dos grandes desafios da atualidade é tentar fazer uma coisa de cada vez e, assim, dar a cada atividade a atenção que ela merece. Dessa forma torna-se necessário desenvolver a capacidade de detectar prioridades e manter a concentração e a atenção voltadas para cada questão no momento em que nos dispomos a resolvê-las.
Depressão, ansiedade e estresse
Diante das inúmeras demandas e informações do dia a dia, a depressão, a ansiedade e o estresse são sintomas cada vez mais comuns na sociedade. A depressão torna os processos cerebrais mais lentos, já a ansiedade aumenta a pressão antecipatória, o que faz com que a pessoa tenha sua atenção e concentração prejudicadas por estar tomada pelo medo daquilo que ainda não aconteceu. O estresse tem um funcionamento parecido: eleva o nível de cortisol no cérebro e aumenta a vigilância, mas prejudica a capacidade de concentração e o foco. Estes sintomas acabam gerando muitas distrações para o cérebro em decorrência da quantidade de pensamentos que tais sensações criam, impossibilitando a sua concentração adequada em outra atividade.
Portanto, quando há suspeita de que um destes transtornos da mente e do corpo possa estar presente, é preciso procurar a ajuda de médicos e psicólogos para um tratamento adequado.
Problemas causados por algumas drogas
O álcool também pode trazer danos não só para a concentração, mas principalmente para o cérebro, podendo atrofiá-lo, gerando casos graves de esquecimentos. O cigarro favorece o aparecimento de isquemias cerebrais, que implicam em problemas cognitivos. Já os medicamentos para dormir, quando usados sem orientação profissional, afetam o ciclo do sono e também a capacidade de memorização.
Dessa forma, caso a necessidade de utilização de alguma medicação seja apontada pelo médico, suas indicações, quantidades e período de utilização devem ser rigorosamente seguidos.
Sono e descanso
O cuidado com a saúde é imprescindível para quem pretende ter uma boa memória. De nada adianta treinar o cérebro e tentar lhe dar novas informações se o ambiente não estiver propício a recebê-las. Um desses cuidados é oferecer ao cérebro momentos de descanso. O cansaço e a falta de sono prejudicam muito a capacidade de memorização e acabam por provocar lapsos. Afinal, é durante o sono que o cérebro processa novas informações. Ficar sem dormir deixa o processo cognitivo mais lento e afeta a memória de longo e curto prazo. Passar uma noite em claro prejudica em até 40% a habilidade de reter novas informações.
Por isso, vale priorizar boas noites de sono, organizar pequenos intervalos durante suas atividades de trabalho ou estudo, ter atividades de lazer, dedicar-se à família e também reservar um tempo para si mesmo. Nas horas de descanso, leituras diversas, palavras cruzadas e sudoku são ótimas formas de estimular a memória. Além disso, as lembranças também podem ajudar, uma vez que têm carga emocional tendem a ser lembradas mais facilmente. Vale buscar novas experiências, ver fotografias e lembrar bons momentos. Esse é um exercício prazeroso e que vai ajudar o cérebro a evocar informações que estavam registradas, mas que já haviam sido esquecidas.
Outra dica é conhecer técnicas de relaxamento e meditação, que, praticados diariamente, têm o poder de ativar as partes do córtex cerebral que comandam as tomadas de decisão, a atenção e a memória. A meditação também ajuda no controle da respiração, que é capaz de reduzir o nível de ansiedade.
Atividade física e alimentação
A atividade física é capaz de aumentar o tamanho do hipocampo, que é a parte do cérebro responsável pela memória. Além disso, ativa a circulação sanguínea, o que favorece a oxigenação cerebral. O hábito de exercitar-se ajuda também no combate aos radicais livres, que são as moléculas responsáveis pelo envelhecimento. Portanto, encontrar um tempo na rotina para se exercitar é imprescindível, nem que sejam caminhadas curtas.
Uma boa alimentação é outra grande aliada. A primeira medida importante é buscar alimentos mais leves e fracionar refeições. Quando se faz uma refeição muito pesada, o fluxo sanguíneo se concentra no intestino e o cérebro fica mais lento e preguiçoso. Os alimentos mais benéficos são os ricos em ômega 3, vitamina B e antioxidantes. Entre os que turbinam a memória estão: os peixes ricos em ômega 3, como salmão, cavala, arenque e sardinha, que beneficiam o desenvolvimento e a manutenção do tecido cerebral; o abacate, que facilita o fluxo de sangue para o cérebro, ajudando na capacidade de foco e concentração; as sementes de abóbora, ricas em ômega 3 e zinco, ajudam a equilibrar a função sensorial; o chocolate tem função antioxidante, ajudando a melhorar a memória, bem como a função motora e a velocidade de reação; o café e o chá verde contém cafeína e mantêm o cérebro em alerta, facilitando a captação de informação e de memorização; o ovo estimula a produção de acetilcolina, que ajuda a memória; e a água mantém a hidratação das células, evitando a sonolência. Todos estes alimentos, no entanto, têm que ser consumidos de forma equilibrada. Não vale, por exemplo, exagerar no chocolate ou ingerir bebidas à base de cafeína depois das 17 horas, o que prejudicaria a qualidade do sono. Se houver dificuldade para encaixá-los de forma saudável na rotina, é recomendável a consulta com um nutricionista.
Repetição e revisão
Com a saúde e os autocuidados em dia, existem ainda algumas iniciativas que podem ajudar a memória na hora de estudar e trabalhar, por exemplo. A primeira delas é zelar por um ambiente adequado para o estudo e o trabalho. Um lugar silencioso, iluminado e organizado, sem elementos que possam nos distrair ou prejudicar a memorização do conteúdo em foco envolve uma atitude prática e que resulta em grande ajuda. Na hora dos estudos, as revisões também são grandes aliadas. Revisar o conteúdo estudado no final do dia e depois de acordar é uma ótima medida. A revisão espaçada, feita de tempos em tempos, também ajuda muito. Uma das formas mais comuns de memorização é a repetição, o que vale não só na hora de decorar conteúdos, mas também de facilitar tarefas o dia a dia. Deixar as chaves sempre no mesmo lugar, por exemplo, pode facilitar muito a vida.
Associações
A associação pode ser um bom jeito de memorizar dados mais específicos, que precisam ser guardados, mas que não exigem interpretação. É possível, por exemplo, inventar alguma história para guardar datas importantes, inclusive lançando mão de imagens mentais. Se a história for contiver elementos peculiares será ainda mais fácil guardá-la, já que o cérebro tem a tendência de fixar aquilo que é inédito e diferente. Uma forma de associação bastante popular entre estudantes são os mnemônicos, exercícios que fazem uso de uma palavra ou frase que pode ser facilmente lembrada para evocar dados mais complicados de memorizar. É o caso, por exemplo, da frase “Minha velha, traga meu jantar: sopa, uva e nata”, cujas primeiras letras de cada palavra servem para recordar a ordem em que estão dispostos os planetas de nosso sistema solar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Estimular a criatividade e fazer diferente
É importante não permitir que o cérebro se acomode. Ele pode e deve ser estimulado durante toda a vida. Dessa maneira, trabalhar a criatividade é uma forma eficaz e prazerosa de estimulá-lo a formar mais conexões, que serão importantes não só na vida adulta como também na terceira idade. Atividades artesanais, artísticas e literárias são uma boa alternativa. Fora isso, pequenas mudanças na rotina podem surtir grandes efeitos: fazer um caminho diferente para voltar para casa; usar a mão esquerda ao invés da direita para realizar alguma atividade; aprender uma nova língua, um instrumento ou um esporte; experimentar uma nova receita na cozinha; mudar de supermercado, etc. Um dia a dia mais estimulante, que não caia na mesmice, é uma grande ajuda para o cérebro. Procurar aprender, conhecer pessoas, experimentar, entre outras coisas, proporciona a busca pelo novo. Entretanto, isso não pode ser confundida com uma vida desregrada: sem horários, sem descanso, sem investimento na saúde… Enfim, embora seja mais fácil permanecer em um dos dois extremos, o equilíbrio é sempre a melhor saída.
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