Frantz Omar Fanon, também conhecido como Ibrahim Frantz Fanon, foi um médico psiquiatra nascido em 1925 no território francês da Martinica, localizado no Caribe.
Filho de um funcionário do governo francês, Fanon recebeu educação básica de qualidade superior à existente no local, inclusive tendo estudado no único colégio de nível secundário (equivalente ao Nível Médio atual) da região. Nesse colégio, teve aulas com Aimé Césaire (1913-2008), poeta surrealista que influenciou intensamente a obra de Fanon e cunhou o conceito de negritude.
Em 1943, Fanon deixou a Martinica e juntou-se ao exército francês, integrando-se ao grupo liderado por Charles de Gaulle (1890-1970), que combatia os invasores nazistas na França.
Após a vitória sobre os inimigos, os soldados não brancos foram excluídos dos registros oficiais, o que também despertou em Fanon indagações sobre a forma como os negros eram vistos e tratados naquele período.
Terminada a guerra, Fanon mudou-se para a França, onde desenvolveu estudos em áreas como Química e Biologia, iniciando na sequência os estudos sobre psiquiatria. Ainda em 1949, ingressou na Universidade de Lyon para estudar Medicina. Ao final do curso, iniciou sua atuação como psiquiatra.
Um de seus livros mais relevantes é Pele negra, máscaras brancas, de 1952, uma reelaboração de seu trabalho de conclusão de curso universitário, que havia sido rejeitado pela Universidade de Lyon devido ao tema abordado. O título do trabalho original era Ensaio sobre a desalienação do negro, e nele o autor discutia elementos que caracterizariam sua obra até o final de sua vida.
Como o nome do livro sugere, nele se analisam ideias relacionadas ao impacto das estruturas coloniais e racistas.
Suas discussões versavam sobre a dominação imperialista, o racismo e os impactos psíquicos que tais situações podiam gerar. Para Fanon, a dominação colonial, estabelecida econômica e socialmente, também atuava na parte psíquica do indivíduo ao causar no sujeito uma ideia de inferioridade com base em características físicas, comportamentais e/ou bioquímicas. Ele chamou esse evento de “epidermização da inferioridade”.
Fanon defendia que, a partir de tal interiorização, o sujeito colonizado passaria também a “desprezar” sua origem, buscando se “tornar branco” por meio da adoção de determinadas posturas e comportamentos típicos do colonizador.
Essa ideia foi reforçada a partir de seu trabalho em um hospital psiquiátrico na Argélia, entre 1953 e 1956, em que atendia soldados argelinos e franceses. Lá, ele percebeu, de maneira bastante concreta, os efeitos nocivos que a violência colonial trazia às pessoas que foram dominadas de alguma forma.
Em 1957, o médico acabou expulso da Argélia por se posicionar publicamente contra a política de assimilação praticada pelos franceses. Em outras palavras, seu posicionamento estava contra a tentativa dos europeus de apagarem a cultura dos povos originários e a substituírem pela própria cultura.
Após esse evento, Fanon chegou a se instalar na Tunísia e em Gana. Em 1959, aderiu à luta pela libertação da Argélia, integrando a Frente de Libertação Nacional, para a qual prestou serviços médicos e de treinamento de equipes, além da divulgação de suas ideias. Fanon chegou a sofrer uma tentativa de assassinato pela La Main Rouge, organização terrorista apoiada pelo governo francês que buscava eliminar as lideranças responsáveis pela luta de libertação argelina.
No ano de 1960, Fanon descobriu uma leucemia e, em 1961, mudou-se para os Estados Unidos em busca de tratamento. A evolução da doença foi rápida, e em 6 de dezembro daquele ano Fanon faleceu, tendo escrito e publicado naquele mesmo ano a obra que é considerada seu testamento político, Os condenados da terra.
Suas ideias são normalmente associadas ao pós-colonialismo e ao surgimento do pensamento decolonial, mas todo seu embasamento teórico se situa no campo do marxismo, associado ao existencialismo de Jean-Paul Sartre (1905-1980) e à psicanálise. Além disso, sua obra é permeada pelos estudos sobre a negritude, conceito entendido como uma retomada subjetiva da identidade negra, objetivada especialmente pelo colonizador.
Fanon buscou enfatizar como a ciência e a educação, associadas à força, trabalhavam no sentido de construir e manter um imaginário de submissão que se manifestava nas ações e pensamentos dos colonizados, sendo reproduzidos pelos próprios indivíduos, uma vez que não poderiam exercer tal violência contra seus dominadores.
O autor pregava que somente a ação revolucionária pela via das armas surtiria efeito para uma mudança desse cenário. Suas ideias deram força aos movimentos de libertação na África e, por sua participação na guerra de emancipação, seu corpo foi enterrado na Argélia, que conquistou sua independência no ano de 1962.
Referências bibliográficas
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