De acordo com dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a frota de automóveis no Brasil ultrapassa os 115 milhões de veículos, o que a coloca entre as maiores frotas do planeta.

Um dos fatores que explica tal amplitude são políticas e incentivos governamentais que, ao longo do século XX em especial, fizeram com que as rodovias ganhassem muito destaque e as ferrovias perdessem importância ao longo do tempo.

A malha rodoviária brasileira é quarta mais extensa do planeta, contando com mais de 1,7 milhão de quilômetros que interligam todas as regiões do país e que unem o Brasil a outros países da América do Sul. Por essas rodovias, circulam aproximadamente 60% das cargas do país, além de 96% dos passageiros que se deslocam de uma cidade a outra.

As rodovias são as principais rotas para o trânsito de cargas e pessoas no Brasil. Fonte: Distrito Federal – BR-010 (pavimento)/ Agência CNT de Notícias/ CC BY 2.0

 

Cuidados e manutenção

Toda essa extensão de malha rodoviária exige muita manutenção em virtude de fatores como as grandes quantidades de chuva e o calor intenso, que ajudam na deformação da massa de asfalto utilizada como revestimento das vias.

Para tentar tornar essa manutenção mais ágil e efetiva, uma solução foi a privatização da administração das rodovias e a instalação de pedágios, que são tarifas cobradas dos condutores em alguns trechos e cujo valor é transformado em investimento e manutenção das estradas. No entanto, a existência dessas tarifas acaba aumentando os custos do transporte em rodoviárias.

 

Como tudo começou

Ainda considerando a realidade brasileira, é possível dizer que as rodovias, tal como são conhecidas na atualidade, começaram a ganhar impulso durante a administração de Washington Luis (1869-1957), presidente do país entre 1926 e 1930. Em seu mandato, o presidente adotou o lema “Governar é abrir estradas” e iniciou a construção de milhares de quilômetros de vias, política que já havia seguido durante sua gestão enquanto prefeito de São Paulo entre 1914 e 1917.

Após Luis ser deposto em 1930, seu sucessor, Getúlio Vargas (1882-1954), que governou de 1930 até 1945, prosseguiu com incentivos governamentais que deram preferência à construção de estradas. No entanto, foi na administração de Juscelino Kubitschek (1902-1976), cujo mandato foi 1956 até 1961, que as rodovias ganharam peso significativo no transporte brasileiro.

Naquele período, as rodovias eram encaradas como símbolos de modernidade e integração nacional, e auxiliavam a interligação das áreas do país que se industrializavam, além de servirem como incentivo para que indústrias automobilísticas também se instalassem no país. Esse incentivo fez com que, cada vez mais, os meios de transporte rodoviários ganhassem espaço e incentivassem o desmonte da malha ferroviária no país.

Iniciando-se na Paraíba, a rodovia Transamazônica atravessa o Brasil no sentido transversal, chegando ao estado do Amazonas. Fonte: Harmir74/ Domínio Público

 

As ferrovias no Brasil

Na atualidade, a soma das estradas de ferro no Brasil alcança a marca de aproximadamente 31 mil quilômetros, extensão bastante modesta se comparada ao tamanho do território brasileiro. A Índia, por exemplo, que possui uma área de aproximadamente metade do Brasil, possui mais de 108 mil quilômetros de ferrovias, apresentando, assim, uma densidade de ferrovias muitíssimo maior que a brasileira.

Aqui no Brasil, as ferrovias passaram a ser instaladas durante o século XIX, no reinado de D. Pedro II, e atingiram o seu auge durante a produção do café, servindo como meio de escoamento do produto das fazendas até os portos. Até o final da Primeira República, esse tipo de transporte ganhou cada vez mais notoriedade, servindo também como modo de locomoção de passageiros em diversas situações.

Nesse período, um evento marcante ligado às estradas de ferro foi a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, que deveria ligar Amazonas e Rondônia, quando a produção de borracha ainda estava em alta na região. Entretanto, fatalidades, falência das empresas responsáveis pela construção, entre outros eventos, fizeram com que a linha férrea demorasse muito para ser terminada, momento em que a produção do látex já começava a entrar em decadência.

Ainda nesse período, a construção de uma ferrovia entre o Rio Grande do Sul e São Paulo levou à Guerra do Contestado, um conflito na região entre Paraná e Santa Catarina.

Em um país de dimensões continentais, como é o caso brasileiro, a utilização das ferrovias ainda se mostra como uma opção viável para baratear os custos dos produtos transportados internamente, embora a instalação desse modal não seja uma tendência no Brasil.

Construção da ferrovia Madeira-Mamoré, a “Ferrovia do Diabo”. Fonte: Ralph Anderson Bennitt/ Domínio Público

Contrapartida às rodovias

Ano após ano, as catástrofes ambientais originadas pelo aquecimento global se tornam mais numerosas, além de mais devastadoras. Esses fenômenos, causados pelo aumento na temperatura média do planeta, estão relacionados a inúmeros fatores, como a queima de combustível fóssil, que, por sua vez, causa grande impacto no equilíbrio ambiental.

Quando se fala nessa queima de combustíveis, os veículos automotores rodoviários são responsáveis por cerca de 14% das emissões globais de dióxido de carbono, um dos principais gases do efeito estufa, causando a retenção de calor no planeta e provocando os desequilíbrios climáticos que vêm afetando diversas populações.

Com isso, é possível perceber que a construção de rodovias está diretamente ligada ao atual cenário ambiental do planeta.

Referências bibliográficas

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