Todos aqueles que já passaram por esse tipo de avaliação sabem: o vestibular carrega uma forte carga de angústia e ansiedade. Trata-se de um momento decisório para grande parte dos jovens, no qual se escolhe, ainda sem muitas experiências, o futuro profissional.

A palavra vestibular vem do latim vestibulum, cujo significado é “entrada”. O exame foi criado no Brasil em 1911 por Rivadávia da Cunha Corrêa, então ministro da Justiça e dos Negócios Interiores. O objetivo era avaliar os candidatos às universidades públicas do país, cada vez mais procuradas, por meio de testes escritos e orais. Antes disso, as vagas das instituições educacionais de ensino superior, criadas por Dom Pedro I em 1827, eram ocupadas por estudantes de colégios tradicionais, como o de mesmo nome do monarca, no Rio de Janeiro.

As primeiras provas de vestibular eram divididas em duas áreas: línguas e ciências. Era comum que tópicos do primeiro ano de faculdade fossem cobrados também, o que incentivou a criação de cursos especiais, embrionários dos atuais cursinhos. Com o passar do tempo, a prova oral tornou-se inviável e foi abolida.

Nos anos 1960 surgiram os primeiros exames unificados, por meio dos quais era possível concorrer a mais de uma universidade pública. Um dos vestibulares mais concorridos do país, a Fuvest, surgiu em 1976, e por meio dele era possível tentar o ingresso a três universidades: Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Isso mudou em 1985, com a desvinculação da Unicamp. Em 1983, a Unesp já havia feito o mesmo.

Em 1970, a Comissão Nacional do Vestibular Unificado, criada para regulamentar os exames, restringiu o conteúdo a matérias do Ensino Médio. Os testes de múltipla escolha surgem na mesma época e contam com a ajuda da tecnologia para a contagem de acertos e erros. As universidades particulares pouco a pouco passam a adotar o modelo.

Mudanças no vestibular: Enem

 

Outro tipo de avaliação vem crescendo no país e, pode-se dizer, tomando o lugar de alguns vestibulares como meio de ingresso ao Ensino Superior. Trata-se do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Criado em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de avaliar a qualidade do Ensino Médio oferecido no país, a prova ganhou novos atributos em 2009. Por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), atualmente ela pode ser utilizada na tentativa de ingresso a universidades federais filiadas. O exame é importante também para a obtenção de bolsas de estudo parciais ou integrais em instituições particulares conveniadas ao Programa Universidade para Todos (ProUni).

O primeiro Enem era composto de 63 questões interdisciplinares de múltipla escolha e uma redação. A partir de 2009 passou a ter 180 questões (45 para cada área, mais a redação) divididas em dois dias e elaboradas com base na matriz de referência publicada pelo MEC em maio do mesmo ano, com a descrição de habilidades e competências que o aluno deve demonstrar. Nessa estrutura, espera-se do estudante o domínio de cinco eixos cognitivos comuns às áreas de Linguagens e Códigos, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. São eles: o domínio de linguagens, a compreensão de fenômenos, o enfrentamento de situações-problema, a argumentação e a elaboração de propostas.

Ao permitir com que, por meio de um único exame, o candidato concorra a diversas universidades, o MEC pretendeu alterar e promover a mobilidade de alunos pelo território brasileiro, fazendo com que os jovens estudantes se espalhem e não fiquem restritos a regiões socioeconômicas mais abastadas, gerando mais equilíbrio entre todas. De acordo com o Censo 2010, a matrícula em universidades federais cresceu 85,9% em dez anos, desde 2000.

Foi em 2009 também que as polêmicas sobre o Enem iniciaram, pois nesse ano teve o primeiro vazamento do gabarito das provas. Nos anos seguintes as controvérsias continuaram: em 2010 houve erros de impressão – perguntas repetidas e fora de sequência; em 2011 houve questões do Inep que eram repetidas do Enem aplicado dias antes; 2014 houve o vazamento via WhatsApp da prova de redação minutos antes da mesma começar; 2015 houve boatos de vazamento do tema da redação, mobilizaram a polícia federal; 2016 houve vazamento de gabarito e tema da redação e em 2019 houve erro na correção das provas.

Devido à pandemia do coronavírus o Enem de 2020 que seria realizado em novembro foi adiado para janeiro de 2021.

O ingresso à universidade em outros países

A forma de ingressar em uma universidade varia de país para país. Observe abaixo como a seleção de estudantes funciona em outras nações:

Alemanha: no decorrer dos últimos três anos de estudo, os estudantes devem escolher uma especialização e, no final, realizar exames orais e escritos de assuntos ligados a essa escolha. O exame é chamado de Abitur e as vagas ficam garantidas àqueles que obtiverem melhores notas.

Argentina: todos podem ingressar na universidade pública, mas após um ano, passam por uma avaliação. Os aprovados nessa etapa prosseguem os estudos.

Estados Unidos: o histórico escolar é fundamental. Ao terminar o colégio, equivalente ao nosso Ensino Médio, os alunos enviam cartas de intenção às instituições de sua preferência, anexando o histórico e o resultado obtido no Scholastic Aptitude Test (SAT). Com base nesses dados, as universidades podem aceitar ou não o candidato. Aptidão com esportes ou talento artístico também podem influenciar a seleção.

Japão: depois de realizar uma prova de conhecimentos gerais, os candidatos fazem uma redação e uma entrevista com a comissão de seleção.

 

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