Em análise ao advento e crescimento exponencial da disposição de informação via internet é possível analisar que a capacidade de circulação de notícias aumentou consideravelmente.

Entretanto, sabe-se que não é sempre que essas informações são verdadeiras, pois não há fiscalização e quando ela existe pode-se dizer que é insuficiente, o que gera consequências negativas.

Atualmente, o nome que se dá às notícias falsas – ou modificadas com propósito de manipulação de pessoas ou organizações – veiculadas na internet é fake news. Apesar da nomenclatura atual, notas fictícias não são exclusividades da modernidade.

Captando a história encontram-se vários episódios em que informações não verdadeiras foram disseminadas e acabaram por gerar alguns impactos.

No século oitavo, por exemplo, foi forjada uma narrativa, conhecida por Doação de Constantino, sobre um documento que teria sido desenvolvido atribuindo a Constantino o Grande (306-337) a disponibilização, com caráter de doação, da dignidade e das insígnias imperiais sobre a cidade de Roma para o papa Silvestre I (283 d.C. – 335 d.C.), após a fundação de Constantinopla (330) o que de fato segue sem afirmações concretas. Com sua validade questionada por muito tempo, no presente, esse documento é considerado apócrifo, ou seja, não autêntico ou de autoria desconhecida.

Já no século 21, os impactos advindos das fake news se mostram crescentes, a partir da manipulação de informações, sobre pessoas ou organizações, como recurso para enganar receptores de informação. Assim aumentando a quantidade de leitores em sítios online o que converte esse tráfego em lucro.

Fake News e as redes sociais

No presente as fake news vêm se popularizando na internet e nas redes sociais devido ao seu poder de compartilhamento em alta velocidade o que causa uma mudança drástica na forma como as pessoas acessam as informações. Estima-se que cerca de 70% dos brasileiros ativos no Facebook adquirem conteúdos informacionais na rede social – segundo pesquisa realizada pelo Institute Reuters the Study of Journalism, 2016 – o que coloca o Brasil como um dos países que mais acessa informações desse modo.

E não há nenhuma problemática que possa restringir ou desqualificar esse tipo de absorção de informações digital. O problema é que, de forma maioritária, essas informações polarizadas são construídas sem base alguma ou até os mais simples cuidados necessários.

Outro fator acelerador das fake news,nas redes sociais, são os patrocínios que podem ser feitos para gerar mais visibilidade e tempo de permanência nas publicações de usuários pessoais ou empresas.

Grandes plataformas de publicidade digital, como o Google Adsense, por exemplo, são ferramentas que objetivam maximizar clicks ou likes em anúncios e para que sejam eficientes, em alguns casos, acabam por distorcer o texto ou fazer uso de trapaças.

Empresas como FacebookGoogle e Youtube acabam sendo categorizadas como terreno fértil para reprodução de notícias falsas, entretanto essas são as que mais investem em ferramentas inovadoras para combater esse fenômeno global. Como exemplo nacional de engajamento contra a propagação de fake news pode-se citar o serviço de checagem de notícias denominado Fato ou Fake, fundado no Brasil no início do segundo semestre de 2018.

Principais impactos das fake news na comunidade

As fake news são planejadas e estruturadas para alcançar objetivos específicos: induzir o leitor ao erro, distorcer uma informação verdadeira, atingir a honra de alvos públicos e figuras privadas ou até fomentar boatos. Logo, para que se possa atingir um maior potencial de divulgação e compartilhamento, de forma estratégica e apelando a temas populares, são usadas palavras que despertam, no leitor, emoções e o envolvem através de suas crenças.

O PhD Bart Cammaerts (1969), professor de mídia e comunicação na London School of Economics, argumenta que o elemento nocivo das notícias falsas se encontra em sua capacidade de ampliar sentimentos populistas e transformar a opinião pública.

Como exemplo, pode-se citar a onda de linchamentos que foi desencadeada na Índia devido ao compartilhamento de boatos no aplicativo Whatsapp sobre supostos sequestradores de crianças nas áreas rurais do país.

No Brasil, há grandes chances de você se deparar com algum tipo de conteúdo falso que trafega tipicamente no Whatsapp. Cerca de 8,8 milhões de pessoas teriam sido impactadas com fake news nos três primeiros meses de 2018 segundo a startup de segurança brasileira PSafe.

Para a comissão diretiva de segurança da PSafe, “o cibercriminoso agride uma das características mais comuns no mundo digital, que é a exponencial capacidade de socialização. Muitas vezes, ao identificar uma notícia polêmica, o internauta usa o poder de compartilhamento abrangente da plataforma com o propósito de defender uma causa ou combatê-la quando, na verdade, está contribuindo inconscientemente com a propagação de fake news”.

Fake news no dia a dia do Jornalismo

A mídia contemporânea exige do jornalista a produção de informações baseada em factualidades o que leva a notícia de forma mais rápida aos seus receptores, todavia, devido a essa rapidez, o filtro de apuração da realidade daquele conteúdo pode ser comprometido o que acomete a divulgação de mais fake news. Sendo assim, na medida em que a propagação de notícias falsas e tendenciosas crescem, a democracia fica ameaçada pois sabe-se que o acesso a informação é um direito de todos.

Em geral, a prática e a difusão de boatos podem vir a se tornar habituais o que, a curto e longo prazo, empobrecem o debate racional e compromete o jornalismo sério. Logo, as fake news geram uma crise tanto na mídia atual quanto no âmbito específico jornalístico uma vez que o público acaba achando as notícias tendenciosas ou enganosas mais interessantes do que as que tenham verdadeiras fontes de credibilidade.

Relatores da Agência Brasil argumentam que a produção e o compartilhamento de falsas informações representam uma tormenta global, ademais são um risco de violência contra o jornalismo por motivos de desconfiança e de credibilidade para com os jornalistas. Em suma, nota-se que as fake news é o principal ponto de partida da crise na mídia contemporânea.

Em meio a tensão midiática, categoricamente, a indústria jornalística não conseguiu escapar da leva de demissões aguçada pela crise econômica a qual passa o Brasil. No estado de São Paulo, dados do Sindicato de Jornalistas Profissionais, em 2016, indicam que 581 demissões de peritos do jornalismo foram efetuadas. Dados desanimadores para o setor jornalístico e seus profissionais.

Fake News e a política

Um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), publicado na renomada revista Science, revelou que as fake news têm 70% mais chances de viralizar do que uma notícia real. Apresentam-se, como exemplo de viralização, as notícias falsas que circularam no Brasil a respeito do assassinato da ex-parlamentar Marielle Francisco da Silva, em 2018.

Segundo o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 2018, sites de opinião política ampliaram de forma decisiva a repetição de notícias falsas sobre motivações políticas no crime contra a ex-vereadora. Assim que identificado o Facebook excluiu uma página e dois perfis associados a disseminação de notícias falsas sobre Marielle.

Por outro lado não é incomum ver nos noticiários o nome do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (1946), associado à fake news. Conquanto, em 2018, suas manifestações têm sido mais frequentes. Para Donald Trump, 96% dos resultados do Google com título Trump News é de oposição e dão informações falsas ou negativas o que impacta drasticamente no desenvolvimento político democrático do país.

Para o professor do Departamento de Informática da PUC-RJ, PhD Daniel Schwabe (1954), a preocupação é como o eleitor brasileiro irá se comportar diante das fake news nas eleições de 2018. Como alternativa de enfrentamento desse fenômeno o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já prepara ações com o Ministério da Defesa, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e o Exército Brasileiro. Compartilhando esforços jurídicos processuais e tecnologias de verificação.

 

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de assinatura de acordo com os EUA para participar do Programa Lunar Nasa Artemis.

Combate às
fake News

Sobre os aspectos penais, quando a notícia falsa é divulgada e seu autor tem a intenção de ofender alguém, o caso pode ter a configuração de crime contra a honra, ou seja, calúnia, injúria ou difamação, de acordo com o que prevê o Código Penal do Brasil. Também, comete contravenção penal aquele que anuncia desastre, perigo inexistente, ou pratica qualquer ato apto a produzir pânico de acordo com o art. 41 da Lei de Contravenções Penais.

Logo, diante o exposto, o melhor para se combater a abundância do compartilhamento de fake news é unir a responsabilidade de todos. Veículos de informação, digitais ou não, podem desenvolver ferramentas capazes de estancar a produção de notícias não reais.

Já as redes sociais poderiam organizar mecanismos que inibam a propagação desse tipo de informação em larga escala. Somando-se a capacidade das instituições públicas em fiscalizar e punir os devidos responsáveis.

Para mais, os usuários são capazes de desenvolver seu senso crítico informacional com a intenção de realizar um filtro de identificação das fake news quando estas chegarem até eles. No entanto, este senso crítico pode ser incentivado de modo global por empresas, governos e veículos de informação, por meio, principalmente, de estratégias didáticas de educação e ética digital.

Por fim, como protótipo de combate às fake news, pode-se mencionar a parceria entre o Ministério da Saúde brasileiro e o Whatsapp que criaram um canal para consulta de notícias falsas no âmbito da saúde. Basicamente, o canal checa as mensagens junto às áreas técnicas do órgão que, em seguida, recebe um carimbo informando se o conteúdo é verdadeiro ou falso.

 

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